Conheço o exato ângulo sobre o qual a duna se acotovela
A inclinação quase serena na subida
A textura áspera da camada de areia cobrindo as pedras
Os volumes unitários dos becos sem saída
Miro faces feridas à caça insumos
O oratório das santas que se viram lentamente
No sentido horário
A fome predatória da coisa sólida no líquido
Volto aos lugares – moratória do tempo
Às senhoras debruçadas sobre os muros caducos
Ao chiado da piaçava no chão de folhas sem cadência
Ao tanto de crianças e seus pés de centopeia
Já estou no marco onde areia branca é mascava
E sorrisos borbulham nas espumas ao romper das películas
E o futuro murmura em formas calcárias
Por ser maleável como água na bacia
Sei que amo e hesito – e existo
Pelo amor calcado na partilha de chagas
E de um cuidado estranho que viu nos olhos mareados e largos
A chance se erigir como haste firme; e no extremo
Uma bandeira que o vento involuntariamente
Pregueia.
06/04/2015