Mãos de peneira

Taça quebrando Não ter mãos de peneira
Coando areia nas águas
Em vez de contê-las

Ser sóbrio, reto, exato em amar
Como quem morre logo
E lento
Vendo nos olhos de quem lhe contemplou amor
O completo sentido dos seios nus

Esse perfeito lugar é
Onde grãos leves se depositam
Um a um
E se mede sem dedos as perguntas que importam
E se amplia as vozes não ditas
E se exuma com mórbida exatidão
A verdadeira rosa
Desconhecida dos punhos

Ter as mãos cheias
Pela lucidez de quem morre
Quando se apreende a flor ambidestra em si
E plural
Sem firulas

Onde a vida calmamente dita sinopse longa
E brava
Como flor que tem ventos no ventre
Se debatendo sozinha
Em suas vistas errantes

O mirante
É a ponte em que
Se aflora toda a formosura
Da navalha fria, sim
Toda beleza vista na lentidão das flores
Em queda amortecida
Sobre quem desce
Às raízes das rosas

O instante onde
A hora se vê em cristal
Claro
Vítreo
Em pensamentos perfeitos e precisos
Sobre assimetrias íntimas

Quando o mar retém breve
Sua essência de onda
(Mas não a líquida)
A ser plano
Liso
A dar conta de ser espelho simétrico
À face íntima
E crespa

Ser sóbrio
Reto
Exato em amar
Ter mãos cheias de carnes
Vestindo a flor em duas vias

Ciente ao fato do vidro
Que parte
Pelo som primeiro que arranha ares
Vazios

E não por seu eco.

28/05/2013

2 comentários sobre “Mãos de peneira

  1. Você constrói poemas que a mim parecem visuais. Desculpe, não imagéticos, mas visuais, como se as palavras pudessem ser tridimensionais, estruturadas, dúcteis. É claro que não consegui dizer o que queria dizer, mas eu falo de poemas e poesia e tudo está bem. Abraço.

    1. Caro Corintiano Voador. Primeiro, obrigado pela visita e pelo comentário perspicaz. Segundo, talvez eu tenha compreendido o que você quis dizer e concordo contigo naquilo que entendi. Muitos dos meus poemas são de fato muito visuais. As imagens trazem consigo um potencial de sensações que gosto de tentar incorporar naquilo que escrevo. Num extremo, chego a escrever poemas sobre fotografias que me inspiram. Esses poemas são mais como descrições poéticas dos elementos das imagens e dos seus diálogos com meus sentimentos. Por fim, um abração e volte outras vezes!

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